ALFABETO DA SOCIEDADE DESORIENTADA

O sociólogo italiano Domenico De Masi inicia seu livro com um mergulho nos aforismos, justamente um artifício que utilizo no meu trabalho, como se fosse um desvio do percurso da nossa vida cotidiana, mas que serve para refletirmos sobre nossas atitudes, mesmo que esbocemos  um sorriso amargo. Nos alegra perceber o quanto De Masi admira o nosso país e brasileiros como Oscar Niemeyer. Mas ao falar sobre criatividade, ele nos mostra o quanto esse mecanismo humano se tornou assediado por neurologistas, psicólogos, pedagogos, sociólogos, cada qual tentando reforçar suas experiências que contribuem para explorar inúmeros aspectos de um problema. Claro que ele não poderia esquecer de mencionar o ócio criativo, que é uma espécie de estado de graça, que só se alcança quando se faz algo que ao mesmo tempo em que trabalhamos, estudamos, mas também nos divertimos. Ao abordar a desorientação e crise, De Masi nos alerta que isso afeta diferentes esferas familiar, política, sexual e cultural. Se por um lado é sintoma de crescimento, mas mostra o lado perigoso, pois o desorientado entrando em crise ele acaba comprometendo seu próprio futuro. Quanto ao desemprego exorcizado, De Masi nos alerta que de repente os empresários possam preferir os robôs no lugar dos trabalhadores e investir no estrangeiro, assim o desemprego só aumenta. A boa notícia por enquanto é que por mais sofisticadas e inteligentes que sejam as máquinas, elas não conseguem produzir ideias, por enquanto o homem ainda detém o monopólio da criatividade. Por fim, como em meu programa Trocando em Miúdos nesta semana estarei falando sobre as universidades, De Masi faz importantes alertas. Naqueles países que tiveram consciência das mudanças históricas provocadas pela globalização, também as universidades assumem uma organização globalizada, educando seus alunos para uma cidadania mundial, visão planetária e linguagem universal, principalmente aquelas que promovem intercâmbios entre alunos e professores, com as universidades estrangeiras. Afinal de contas, como bem acentua o sociólogo italiano, a formação universitária não pode limitar-se a fornecer competência para o trabalho, mas deve oferecer instrumentos para enriquecer de sentido a vida inteira. Complementa nos alertando de que a mente humana se caracteriza pela criatividade, e a formação universitária tem papel importante ao contribuir para a formação da criatividade. Afinal de contas, a imaginação impele a voar alto; a concretude fornece as técnicas para calcular o voo e a rota, alcançando a meta sem se espatifar no chão. Temos que assumir o controle, não permitindo que nossa desorientação seja produto da nossa incapacidade de traçar as coordenadas do nosso presente e decidir com lucidez as abordagens do futuro. Como bem pontuou o celebre filósofo Voltaire: “Quem não vive o espírito do seu tempo, colhe apenas os males.” 

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