A MÍDIA PORTÁTIL
Foram milhões de anos até que a nossa espécie adquirisse a capacidade de utilizar a linguagem. Os egípcios inovaram com a criação de caracteres simbólicos e em 2.500 ac criaram o papiro. Já os sumérios no Golfo Pérsico, desenvolveram uma outra forma de escrita a partir de desenhos em almofadas de barro. Os gregos 500 a.c. já tinham um alfabeto amplamente utilizado. Os chineses por volta de 800 D.C. imprimiram a Sutra do Diamante, o primeiro livro do mundo. Gutenberg que conseguiu emplacar o seu primeiro projeto, a Bíblia, nunca desfrutou dos dividendos da sua imaginação e criatividade. 
Mas o ritmo da comunicação humana se tornou frenético com a imprensa de massa, surgindo a partir do telégrafo. Já na primeira década do século XX o cinema era o entretenimento preferido. Em 1920 surge o rádio doméstico, seguido pela televisão a partir de 1940.
Até a década de oitenta, o sujeito com o seu radinho portátil, através do fone de ouvidos, curtia os seus programas preferidos. Naquela oportunidade o único meio de interação com o veículo de comunicação, acontecia por meio do telefone fixo. Em meio a significativas mudanças ditadas pela ânsia comunicacional das pessoas surge a internet. O novo veículo desperta a criação de novas ferramentas que são incorporadas ao pensamento das pessoas, desafiando os limites da existência humana. O que poderia contribuir para que especialistas nos auxiliassem a compreender melhor o relacionamento entre esses veículos de massa, seus reflexos junto a sociedade em que atuam, parece que tudo se tornou mais confuso. Nesse vasto cardápio comunicacional o prato do dia acabou ficando por conta da liberdade de expressão. E o que a sociedade tem lucrado diante deste vasto mundo midiático portátil que chega ao bolso das pessoas pelo celular? As novas tecnologias estimulam a comunicação virtual, desprezando o contato do “cara a cara”. Esse mundo virtual também contribui para que a culpa de eventuais erros cometidos através de postagens, possa ser debitada por conta do fraco sinal da WiFi ou mesmo do corretor ortográfico. O que mais impressiona nesse universo “on line” é o apetite insaciável por notícias falsas. O maior problema nesse cenário está na ausência de uma vacina poderosa contra uma notícia falsa, pois notamos a atitude emocional das pessoas que usam as “Fake News”, que na verdade tem o objetivo de reforçar as suas próprias convicções.
O efeito das redes sociais é muito mais impactante do que do serviço de alto-falante anunciando a “pamonha”, pois se antes as pessoas se dirigiam ao caminhão para comprar pamonha, nas redes sociais, se as pessoas pudessem, jogariam pamonha uma na cara da outra. Não que estejamos retornando à época do Império do Calígula, mas pesam sobre as ferramentas comunicacionais, graves acusações. Não por acaso, poderíamos estar rebaixando as preferências culturais do público. De certa maneira, contribuindo para anestesiar as massas até o nível da superficialidade política. Estamos diante de uma realidade que permite a crença que o nosso padrão de vida vai melhorar a partir de uma compulsão por compras, com isso reforçando a máxima do Joelmir Betting “quem não deve, não tem!” A mídia portátil desse mundo virtual, pode até apresentar alguns efeitos terapêuticos, mas que não foram suficientemente avaliados pelos pesquisadores. Por outro lado, seus efeitos colaterais já estão produzindo danos no tecido social. Como diria o Millôr: “Os fatos na verdade, já não acontecem. São fabricados nas poderosas oficinas de comunicação de massa.” Complemento dizendo que são compartilhadas por máquinas que excedem o nível da performance humana.

Comentários

Postagens mais visitadas